Pelo reconhecimento, gestores vão ao Fórum de Lille, na frança, apresentar essas experiências.
Um dos desafios da Conferência Ethos 2013 era aproximar teoria e prática para andarem juntas no desenvolvimento de negócios sustentáveis e responsáveis. Por isso, além de oferecer as tradicionais palestras e debates, este ano a programação trouxe também entre os módulos de análises de casos e de modelos de negócios sustentáveis. Na verdade, eles se constituíram em exercícios de análises de casos concretos e de modelagem de negócios sustentáveis.
Nos três dias de Conferência, 5 casos e 6 modelos que passaram pela pré-seleção foram apresentados ao vivo a uma banca de especialistas e ao público que, ao se inscrever na Conferência, escolheu participar das sessões de análise de casos ou de modelos.
Os seis modelos selecionados para a Conferência foram Optimale Soluções; – Konkero; Limpgas Tecnologia em Descarte de Gases Industriais Ltda; Extrair; Desfruta e Treebos.
No que tange aos casos concretos, os cinco selecionados para serem apresentados ao público foram: Walmart Sustentabilidade Ponta a Ponta; Natura Sou; JBS Sustentabilidade a serviço do negócio; Light Legal e Sistema Habitacional Precon (SHP).
Treebos e SHP foram reconhecidos como os melhores modelo e caso de negócios sustentáveis da Conferência Ethos 2013. Por esse reconhecimento, os gestores vão ao Fórum de Lille apresentar essas experiências.
Quem quiser saber detalhes desses dois exemplos e de todos os modelos e casos aqui citados pode acessar o site do Instituto Ethos: www.ethos.org.br
Nesse comentário, vamos destacar a experiência do Sistema Habitacional Precon (SHP), pelos dilemas socioambientais que a solução apresentada enfrenta num setor particularmente estratégico para a economia e o desenvolvimento sustentável.
Contexto socioeconômico e ambiental
O setor da construção civil tem um papel fundamental a desempenhar para o desenvolvimento sustentável. O Conselho Internacional da Construção (CIB) aponta essa indústria como uma das atividades humanas que mais consome recursos naturais e utiliza energia de forma intensiva, gerando consideráveis impactos ambientais. Além dos impactos relacionados ao consumo de matéria e energia, há aqueles associados à geração de resíduos. Estima-se que mais de 50% dos resíduos sólidos gerados pelo conjunto das atividades humanas sejam provenientes da construção. Diante desse quadro, o CIB tem recomendado que países adotem diretrizes no sentido de cada vez mais ordenar sua indústria para: busca de soluções que potencializem o uso racional de energia ou de energias renováveis; gestão ecológica da água; redução do uso de materiais com alto impacto ambiental; redução dos resíduos da construção ; especificações que permitam a reutilização de materiais.
As estatísticas relativas à realidade brasileira mostram que, no aspecto ambiental, 40% dos materiais consumidos vão para a construção civil; o setor gera 30% do lixo sólido e representa 20% do consumo de água e 35% da energia de toda a sociedade brasileira. No aspecto social, a informalidade, alta rotatividade, a má formação profissional e a baixa produtividade são os obstáculos a serem superados para garantir a esses profissionais mais renda e qualidade de vida.
A Precon investiu 20 anos em pesquisas e desenvolveu o Sistema Habitacional Precon (SHP) buscando reduzir ao mínimo os impactos socioambientais da atividade e manter a margem econômica da empresa. A solução encontrada foi trazer para a construção civil o conceito de “montadora” utilizada na industria automobilistica.
O resultado desse investimento, valorizado na análise do caso na Conferência Ethos, foi ter conseguido uma tecnologia que melhora a qualidade das edificações e, ao mesmo tempo, aumenta a sustentabilidade econômica e socioambiental do produto, que pode ser percebida pelos seguintes indicadores:
– sistema construtivo com alto padrão de qualidade e maior produtividade, pois reduz o tempo de construção pela metade;
. redução do consumo de recursos naturais e das perdas com a redução da produção de residuos em 81% em relação a construção tradicional;
– mão de obra contratada é 100% formal;
– tecnologia de industrialização adotada pela Precon permitiu produção em série, garantindo ganhos de escala e redução do custo. O custo atual se equipara com o da construção tradicional em R$ 850,00 por m2. E já está em fase de implementação uma inovação no sistema construtivo que vai permitir uma redução de 6,5% do custo total da obra.
Essa tecnologia já responde por 60% do faturamento da Precon, uma empresa fundada em 1963 e que começou a trabalhar com a SHP a partir de 2010. Em 2011, representou 11% do faturamento. Em 2012, pulou para 40%.
A limitação desse sistema construtivo é que a Precon não consegue atender regiões que estejam a mais de 300 km de sua unidade fabril, que fica na Grande Belo Horizonte. Hoje, a SHP está focada em clientes residenciais, nas faixas entre 3 e 10 salários mínimos do Programa Minha Casa, Minha Vida.
Essa limitação pode ser superada pela ampliação da atuação da empresa para outros públicos e segmentos. Ou por meio de parcerias com outras incorporadoras, induzindo-as, inclusive, a refletir sobre suas práticas e a implementar mudanças na gestão no caminho da sustentabilidade.
Legenda da foto: Marcelo M. de Miranda