Diálogos sobre inclusão abordaram boas práticas já implementadas
Num ano em que países em todo o mundo flertam com retrocessos, sobretudo na agenda de direitos humanos, o tema que é presente no DNA do Instituto Ethos, realizador da Conferência Ethos, foi a discussão central na primeira de quatro Conferências Ethos 360º do ano, realizada em 25 de junho, no Rio de Janeiro.
Equidade de oportunidades e empregabilidade de negros – entraves e superação do racismo institucional e estrutural e da intolerância foi um painel que contou apenas com mulheres discorrendo sobre os entraves que afetam em maior proporção o acesso em igualdade de oportunidades para mulheres, sobretudo as negras, como há anos aponta a série histórica do Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas. De acordo com o último estudo, de 2016, mulheres em conselhos de administração somam apenas 11%, sendo que o número de homens ocupando o mesmo cargo é oito vezes maior, apesar de a população feminina ser maior que a masculina e ter mais anos de educação.
Patricia Santos, CEO e fundadora do EmpregueAfro e especialista em carreira/mercado de trabalho do programa Encontro com Fátima Bernardes, ponderou sobre um dos argumentos apontados como determinantes para a invisibilidade de mulheres negras no mercado de trabalho brasileiro. “Todos os dias desafiamos o status quo para destruir os vieses inconscientes. A gente luta para construir uma história de sucesso por dia”, avaliou.
Outro aspecto nesse contexto de exclusão é a ausência de ações afirmativas para mudar o atual cenário. Dentre as empresas participantes da última edição do Perfil, apenas 3,9% contam com alguma forma de ação afirmativa para aumentar a presença de afrodescendentes em seus quadros. O que pode representar uma passividade frente a situação. Como se apenas um representante negro ou negra fosse suficiente. “Eu sou a única especialista negra no programa Encontro e isso me dói, porque sei que muitos outros também poderiam estar aqui”, desabafou Patrícia.
Como o propósito das Conferências Ethos também é lançar luz sobre o “como fazer”, Carolina Werneck, gerente de Comunicação e Sustentabilidade da White Martins compartilhou aprendizados. “Temos que nos atentar ao tripé da diversidade, pois não adianta tentar incluir, enquanto se tem um ambiente hostil. O que tivemos de facilitador em nosso projeto de diversidade foi o fato de sermos uma empresa americana na qual o CEO fez um vídeo estimulando essa prática”, contou a gerente da White Martins.
A mediadora do painel, Sheila de Carvalho, coordenadora de Práticas Empresariais e Políticas Públicas do Instituto Ethos, explicou que o diálogo em questão foi pensado no âmbito da Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero. “Entendemos que a falta de igualdade ainda é um desafio a ser superado no ambiente corporativo. Então, diálogos como esse põem o tema em voga e nos auxiliam a pensar coletivamente em mudanças”, observou Sheila.
Nessa linha, ter conhecimento sobre O que (não) fazer na promoção da diversidade e inclusão – nome dado ao painel que contou com Diego Silva, engenheiro de DevOps da SAP e Luiz Eduardo Passos, Business Manager da Shell Lubricants Brazil – trouxe depoimentos a respeito de práticas adotadas.
“Temos uma meta global para aumentar o número de mulheres em cargos de liderança e programas de inclusão de raça e pessoas com deficiência, inclusive um programa de inclusão de autistas”, revelou Diego.
“Se eu for fazer um checklist sobre o compromisso que assumi na Shell poderia pensar estar confortável, mas não é bem assim, trata-se de uma mudança cultural, em que o primeiro ponto é reconhecer o que não sabe e estar disposto a se reinventar e aprender a lidar com as diferenças”, avaliou Luiz Eduardo.
Por: Rejane Romano, do Instituto Ethos
Fotos: André Luiz Mello