A empresa precisa estabelecer um conjunto coerente e integrado de práticas que garantam uma boa interface de sua gestão com sua cadeia produtiva.

Por Cristina Fedato*

São diversos os mecanismos que induzem uma empresa a incorporar, em maior ou menor grau, atributos de sustentabilidade em sua estratégia. Conforme esta evolui e amadurece, a empresa assume compromissos para uma atuação responsável e não conseguirá cumpri-los se não contar com a cooperação de seus públicos estratégicos de negócio. Fornecedores, clientes e parceiros de negócios são stakeholders críticos para o sucesso da maioria das empresas.

O tema da sustentabilidade na cadeia de valor tem sido, portanto, cada vez mais disseminado como forma de aprimorar a atuação sustentável das empresas e promover relações comerciais mais justas, competitivas e duradouras em suas cadeias produtivas. Além disso, é na interface com parceiros de negócios que reside uma gama de oportunidades de negócios em sustentabilidade e inovação.

A gestão da sustentabilidade na cadeia de valor se dá quando a empresa passa a fazer a gestão estratégica dos impactos sociais e ambientais de matérias-primas e serviços, desde os fornecedores, subfornecedores e prestadores de serviços até o cliente final e etapas pós-consumo. Quando o assunto é sustentabilidade na cadeia, geralmente estamos nos referindo à gestão da cadeia de fornecedores, porque este é o elo da cadeia no qual costuma haver maior influência e responsabilidade. Porém, deve-se olhar para a cadeia estendida, de ponta a ponta, visando o desenvolvimento de estratégias baseadas numa visão integral do ciclo de vida de seus produtos e serviços.

Dependendo do setor de atividade da empresa, a cadeia terá características próprias. Avaliando-se os setores têxtil, financeiro, farmacêutico, de construção civil e químico, por exemplo, encontram-se cadeias muito distintas do ponto de vista de configuração de empresas, porte, dispersão geográfica e riscos e oportunidades no relacionamento entre parceiros. O mapeamento de riscos e oportunidades, bem como a análise das relações de poder e de qual é a posição ocupada pela empresa estudada, são fundamentais para o desenvolvimento de uma estratégia de sustentabilidade nas cadeias das quais ela faz parte.

Trabalhar a sustentabilidade na cadeia de valor pode ser uma forma de gestão de risco e de atender a demandas de autorregulação, mas pode conduzir à criação de vínculos e alianças estratégicas com parceiros de negócios e ao desenvolvimento conjunto de inovações em processos e produtos com foco em sustentabilidade.

Quando se fala em gestão de risco, é possível trabalhar nas áreas de suprimentos a incorporação de critérios de sustentabilidade nos processos de gestão de fornecedores, tais como credenciamento, monitoramento, homologação, avaliação. Alguns temas que frequentemente surgem como relevantes para serem monitorados nas cadeias são relativos a condições de saúde e segurança no trabalho, grau de dependência do fornecedor em relação à empresa cliente, cumprimento da legislação por parte do fornecedor e combate ao trabalho infantil ou análogo ao escravo. Ou seja, o fornecedor deve ser avaliado quanto à sua gestão, e não apenas do ponto de vista do produto oferecido ou do serviço prestado. E, a partir dessa avaliação, pode-se criar programas de desenvolvimento de boas práticas de gestão nos fornecedores.

A gestão sustentável da cadeia se dá por meio da incorporação de atributos de sustentabilidade nas estratégias, práticas e procedimentos de gestão da cadeia produtiva. Não basta a empresa criar e impor requisitos de sustentabilidade para que eles sejam cumpridos por seus fornecedores; é preciso que a empresa estabeleça um conjunto coerente e integrado de práticas que garantam uma boa interface de sua gestão com a cadeia. Nesse sentido, o uso dos Indicadores Ethos na cadeia de valor apresenta alguns pontos importantes para que a empresa aprimore tal interface e avance na construção de relacionamentos estáveis com seus parceiros de negócios.

Junto aos processos de gestão de risco, a empresa deve ser estimulada a criar um plano de relacionamento com fornecedores, distribuidores e clientes, de modo a olhar para sua cadeia do ponto de vista da oportunidade e enxergar nos desafios da sustentabilidade as oportunidades de parcerias para inovação e criação de novos produtos e serviços.

* A consultora e docente Cristina Fedato é especialista em sustentabilidade e responsabilidade social.

_________________

Este texto faz parte de uma série de artigos de especialistas promovida pela área de Gestão Sustentável do Instituto Ethos, cujo objetivo é subsidiar e estimular as boas práticas de gestão.

Veja também:
A promoção da igualdade racial pelas empresas, de Reinaldo Bulgarelli;
Relacionamento com partes interessadas, de Regi Magalhães;
Usar o poder dos negócios para resolver problemas socioambientais, de Ricardo Abramovay;
As empresas e o combate à corrupção, de Henrique Lian;
Incorporação dos princípios da responsabilidade social, de Vivian Smith;
O princípio da transparência no contexto da governança corporativa, de Lélio Lauretti;
Empresas e comunidades rumo ao futuro, de Cláudio Boechat;
O capital natural, de Roberto Strumpf;
Luzes da ribalta: a lenta evolução para a transparência financeira, de Ladislau Dowbor;
Painel de stakeholders: uma abordagem de engajamento versátil e estruturada, de Antônio Carlos Carneiro de Albuquerque e Cyrille Bellier;
Como nasce a ética?, de Leonardo Boff;
As empresas e o desafio do combate ao trabalho escravo, de Juliana Gomes Ramalho Monteiro e Mariana de Castro Abreu;
Equidade de gênero nas empresas: por uma economia mais inteligente e por direito, de Camila Morsch;
PL n° 6.826/10 pode alterar cenário de combate à corrupção no Brasil, de Bruno Maeda e Carlos Ayres; e
Engajamento: o caminho para relações do trabalho sustentáveis, de Marcelo Lomelino.