Pesquisa do IBGC revela o entendimento dos conselheiros a respeito do tema sustentabilidade e da sua relação com a estratégia corporativa.     

Por Sérgio Mindlin*

Na semana passada, comentamos sobre uma atividade da Conferência Ethos que vai trazer presidentes de conselhos de administração, vice-presidentes financeiros e mulheres líderes empresariais para discutir as diversas visões da sustentabilidade nos negócios que cada segmento tem.

Gostaria de voltar a esse tema, trazendo agora os resultados de uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), chamada, justamente, “Sustentabilidade nos Conselhos de Administração”.

O resultado dessa pesquisa foi lançado no começo de junho último, durante um evento que marcou os seis anos de atividades da Comissão de Estudos em Sustentabilidade para as Empresas (Cese), do IBGC.

O estudo em questão é o segundo volume da série Experiências em Governança Corporativa. Foi feito com sete empresas listadas no Índice Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BM&F Bovespa para entender como os respectivos conselhos tratavam o tema.

Nas entrevistas com conselheiros dessas sete empresas, foram discutidos o surgimento e o entendimento do tema sustentabilidade nos conselhos e a relação entre sustentabilidade e a estratégia corporativa, assim como os impactos na cadeia de valor, nos diversos stakeholders, na gestão, na cultura interna e no estabelecimento de parcerias estratégicas.

Os resultados mostraram que:

– A entrada da temática da sustentabilidade nos Conselhos ocorreu tanto por iniciativa de um de seus membros como em função de fatos relacionados a compromissos, valores ou crenças – em alguns casos tornando-se tema constante ou mesmo fazendo parte das reuniões de discussões esporádicas e específicas;

– Não há consenso entre os membros de um conselho e mesmo entre os conselhos estudados a respeito da definição de sustentabilidade. As definições dadas mostraram as preocupações com situações perante as quais o negócio pudesse sofrer influências ou tivesse dependência, tais como o fortalecimento do aspecto econômico, a conformidade e gestão de riscos dentro dos limites físicos das suas operações, o melhoramento das relações conflituosas ou o desafio de trabalhar as questões ambientais de impacto global, como as mudanças climáticas;

– Todas as sete empresas entrevistadas estabeleceram algum tipo de órgão de apoio, direto ou indireto, para o conselho no que diz respeito à sustentabilidade. As estruturas criadas foram desde comissões (apoio indireto), passando por comitês (apoio direto) que tratam do tema sem destacá-lo na sua denominação (um comitê de estratégia, por exemplo), até os comitês de sustentabilidade propriamente ditos;

– A frequência das discussões do Conselho sobre sustentabilidade varia desde ser um tema presente em todas as reuniões até aparecer duas vezes ao ano, quando da comemoração de uma conquista ou quando se torna um tema crítico para a organização;

– Para os conselheiros entrevistados, dar a devida importância à sustentabilidade significa ter uma visão mais abrangente da gestão de riscos da companhia e do restante das melhores práticas de governança corporativa;

– Os conselheiros também concluíram que as empresas que não fizerem o bem para a sociedade vão sumir.

Para o IBGC, o estudo mostrou que:

– Os conselheiros mantiveram o tom para a sustentabilidade com vistas à longevidade da organização, à gestão de riscos ou à licença social para operar

– Mostraram-se preocupados em mitigar ou compensar os eventuais impactos ambientais e sociais que as operações poderiam causar e deram importância ao código de conduta, aos valores organizacionais e à legislação relacionada aos direitos humanos e direito ambiental. Alguns reconheceram que a empresa existe para fazer o bem à sociedade.

– O padrão de negócios vigente, estimulado por investidores financeiros que demandam resultados de curto prazo, ainda limita uma atuação mais responsável por parte das empresas. O maior alinhamento das empresas com os interesses da coletividade no presente e no longo prazo seria uma boa oportunidade para resgatar a imagem e o papel das empresas na sociedade, ampliando a confiança nesse tipo de organização.

Próximos passos

No evento de lançamento do estudo, foi realizado um debate com a presença de três conselheiros. Ao final, os demais presentes foram convidados a responder um questionário eletrônico para avaliar o evento e dar sua opinião sobre algumas questões referentes à sustentabilidade nos conselhos de administração.

As respostas dadas demonstraram que os participantes entenderam a relevância do tema para o futuro dos negócios:

– 80% dos respondentes concordam ou concordam integralmente com a afirmação “o domínio sobre o impacto de temas socioambientais sobre o resultado econômico das empresas é um fator fundamental na seleção de um conselheiro ou diretor”;

– 80% dos respondentes entendem que a inserção de métricas de sustentabilidade na avaliação de executivos e do conselho de administração são importantes tanto para executivos como para conselheiros das empresas.

Pode não ser agora, mas essas respostas apontam que mudanças estão a caminho. Quem vai dar o próximo passo?

* Sérgio Mindlin é presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos.

Legenda da foto: Comissão de Estudos de Sustentabilidade para as Empresas, do IBGC, no lançamento da pesquisa.