O estudo considerou 100 das empresas que cresceram mais rápido nos últimos anos (13 delas brasileiras), em 16 países de mercados emergentes.
A Transparência Internacional (TI) divulgou na última quinta-feira (17/10) pesquisa sobre a transparência das empresas multinacionais nos mercados emergentes. Intitulado Transparency in Corporate Reporting: Assessing Emerging Market Multinationals (Transparência na Informação Corporativa: Avaliando Multinacionais nos Mercados Emergentes), o estudo considerou 100 das empresas que cresceram mais rápido nos últimos anos, sediadas em 16 países de mercados emergentes. Das empresas analisadas, 13 são brasileiras. A pesquisa conta ainda com uma sessão dedicada aos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Das 100 empresas analisadas, 75% obtiveram pontuação menor do que 5, numa escala de 0 a 10, na qual 0 é o menos transparente e 10, o mais transparente. As empresas brasileiras alcançaram uma média ligeiramente abaixo do desempenho geral. Enquanto a média do conjunto das empresas analisadas foi de 3,6 pontos, as brasileiras ficaram em 3,4.
É importante ressaltar que a avaliação é feita exclusivamente com base nas informações e documentos disponíveis no site de cada uma das empresas. A coleta de dados foi orientada por um questionário que avalia três eixos:
- Desenvolvimento de Medidas e Programas Anticorrupção, que avalia as políticas de compliance e prevenção à corrupção das empresas;
- Transparência Corporativa, que analisa a divulgação das informações operacionais da empresa, tais como estruturas de controle acionário e filiais; e
- Operações Financeiras, que avalia a publicação de informações financeiras entre os países onde as empresas atuam.
As empresas brasileiras foram mais bem avaliadas no eixo Desenvolvimento de Medidas e Programas Anticorrupção, com a pontuação média de 5,4. A empresa com melhor pontuação foi a Petrobras, com 8,8 pontos, e a menor pontuação foi o Grupo Odebrecht, que não pontuou nesse quesito.
No segundo eixo, Transparência Corporativa, o Brasil obteve a média de 4,5 pontos. Quatro empresas receberam 7,5 pontos, a maior nota alcançada. São elas a Embraer, a Gerdau, a Marcopolo e a Natura. Entretanto, no último eixo, sobre as Informações Financeiras, as empresas brasileiras tiveram um mau desempenho, com 3 pontos de média. A melhor índice alcançado foi de 4 pontos, pela Gerdau. Diversas empresas não obtiveram nenhum ponto, o que demonstra que a transparência das transações financeiras ainda é mínima no país.
No ranking geral, assim como a maioria das empresas avaliadas, todas as brasileiras ficaram com a média das três categorias analisadas abaixo de 5, variando entre 4,6 e 0,2. A empresa mais bem avaliada foi a Marcopolo.
Embora apresente alguns resultados encorajadores, o relatório conclui que as práticas de transparência das empresas avaliadas no mundo todo ainda são inadequadas. Os níveis de transparência observados estão aquém dos padrões esperados de grandes empresas. Com a notável exceção das indianas, a maioria das empresas analisadas está muito longe de divulgar informações financeiras em todos os países onde operam. A maioria revela pouco ou nenhum dado financeiro em uma base comparativa, e as empresas da China estão entre as que menos divulgam esse tipo de informação.
O resultado do estudo reflete a falta de reconhecimento pelas empresas da importância da transparência na construção de uma boa governança, incluindo a gestão de riscos de corrupção. No entanto, o fato de algumas empresas apresentarem bom desempenho em certos aspectos da pesquisa indica que a melhoria é possível e invalida o argumento de que a divulgação coloca a empresa em desvantagem competitiva.
As boas práticas das multinacionais brasileiras bem pontuadas devem ser divulgadas e compartilhadas entre as empresas para a busca de maior transparência. Sempre houve uma cultura do sigilo no Brasil, mas agora já se notam mudanças em favor da publicidade e da transparência, e muitas empresas brasileiras já estão, de fato, demonstrando essa preocupação.
Durante a realização do estudo, todas as empresas foram contatadas e convidadas a enviar suas contribuições. Das 100 multinacionais avaliadas, somente 17 deram retorno para a Transparência Internacional, contribuindo para o avanço do estudo. Dentre estas, cinco brasileiras: a Brasil Foods, a Gerdau, a Natura, a Petrobras e o Grupo Votorantim. Esse envolvimento das empresas no processo de revisão de dados contribuiu para a qualidade do relatório e uma melhor compreensão da diversidade de práticas anticorrupção.
“O debate é extremamente importante e nós sabemos que existem muitas dificuldades na cultura organizacional para a publicação de determinadas informações. Por outro lado, as empresas estão interessadas em melhorar suas práticas e para isso queremos escutá-las e discutir não só a metodologia do estudo e as melhores práticas, mas também as principais dificuldades para os avanços na transparência corporativa”, disse Leo Torresan, presidente da Amarribo Brasil. A organização, representante da Transparência Internacional no país, pretende realizar um debate com as empresas sobre o tema, para que o país avance e o setor privado exerça cada vez mais seu papel na luta anticorrupção.
Resposta das empresas brasileiras avaliadas
Algumas empresas responderam pela imprensa às críticas contidas na pesquisa da Transparência Internacional.
A Odebrecht e a WEG disseram ao jornal O Estado de S.Paulo que não foram procuradas pela Transparência Internacional. Já Petrobras informou que implementou seu programa de prevenção à corrupção e divulga trimestralmente balancetes financeiros sobre seus investimentos no Brasil e no Exterior.
Avaliação dos Brics
De todas as empresas avaliadas, 75 são dos Brics. Isolando somente as empresas desses cinco países, a Índia foi mais bem avaliada, obtendo a nota média de 5,4. A China teve o pior desempenho, com média 2, e o Brasil ficou em 4º lugar, com 3,4 pontos de média.
Entre os Brics, a China é o país com maior número de empresa analisadas (33), seguido da Índia (20), do Brasil (13), da Rússia (6) e da África do Sul (3).
Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção
Das 13 empresas brasileiras avaliadas, quatro (Brasil Foods, Gerdau, Natura e Petrobras) assinaram o Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção, uma iniciativa do Instituto Ethos. Elas ficaram entre as seis empresas brasileiras mais bem avaliadas. Ao se tornarem signatárias do pacto, as empresas assumem uma série de compromissos, entre os quais os de vedar qualquer forma de suborno, trabalhar pela legalidade e transparência nas contribuições e campanhas políticas, primar pela transparência de informações e divulgar a legislação brasileira anticorrupção para seus funcionários.
O relatório aponta também que as empresas de capital aberto tiveram melhor desempenho do que as estatais e as de capital fechado, ilustrando o impacto positivo que os requisitos de divulgação impostos às empresas de capital aberto têm sobre a transparência.
Além da Lei de Acesso à Informação, que pondera sobre empresas públicas e sociedades de economia mista, o Brasil conta com a recente Lei 12.846, sobre Responsabilidade Civil e Administrativa de Pessoa Jurídica, a qual legisla sobre empresas envolvidas em atos contra a administração pública, com mecanismos de responsabilização nas esferas civil e administrativa.
Para a presidente da Transparência Internacional, Huguette Labelle, não há dúvida sobre a importância da atuação dessas multinacionais. “À medida que as empresas de mercados emergentes expandem sua influência, devem aproveitar a oportunidade de aumentar seus esforços para acabar com a corrupção internacionalmente. Empresas operando globalmente sem transparência correm o risco de danificar sua marca e perder a confiança das comunidades locais. As pessoas têm o direito de saber o que as multinacionais pagam em impostos bem como quaisquer outros valores pagos ao seu governo”, disse.