No Dia do Meio Ambiente, relembramos a violência contra ativistas e povos indígenas na Amazônia e destacamos a necessidade de ação global
No dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, somos lembrados de um triste marco: um ano se passou desde o desaparecimento e assassinato brutal de Bruno Pereira e Dom Phillips, dois corajosos defensores ambientais e ativistas de proteção dos povos originários da Amazônia. Seus nomes agora se juntam a uma estatística alarmante de violência contra aqueles que dedicam suas vidas a proteger a floresta e seus habitantes. E os demais defensores que não chegam no noticiário?
Os números não podem ser ignorados. A violência contra defensores ambientais e lideranças indígenas tem aumentado de forma assustadora nos últimos anos. Segundo o Relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o ano de 2022 foi marcado pelo aumento da violência contra a pessoa em decorrência de conflitos no campo. Ao todo, foram 553 ocorrências, que vitimaram 1.065 pessoas, 50% a mais do que o registrado em 2021 (368, com 819 vítimas). Nesse cenário, os povos tradicionais são as principais vítimas. Os povos Guajajara, Yanomami, Kadiwéu e outras comunidades têm sido alvos frequentes, pagando um preço alto pelo exercício de seus modos de vida que passam pela proteção de suas terras e de recursos naturais.
No entanto, a violência não se limita a assassinatos. Ações de intimidação, incêndios criminosos em bases da Funai e ataques a ONGs, como o Projeto Saúde e Alegria e o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), mostram o quão vulneráveis essas vozes em defesa da Amazônia são.
É preciso reforçar a memória desses eventos em um país que muitas vezes esquece sua própria história e normaliza o extrativismo não-regulado, ilegal e predador. A região amazônica enfrenta uma escalada das atividades ilegais, incluindo o garimpo de ouro, desmatamento de terras públicas, pesca e atividades extrativistas sem manejo, e observa-se também a escalada do crime organizado com o aumento do tráfico de drogas e de armas. Além disso, empreendimentos de grande impacto, como a exploração da Foz do Rio Amazonas, colocam ainda mais pressão sobre essa região tão vital para o equilíbrio do planeta.
A expansão da fronteira do desmatamento e o avanço das atividades ilegais têm um impacto direto nos modos de vida das comunidades locais e representam uma ameaça constante para os defensores ambientais. Como conciliar desenvolvimento e preservação? Como aproveitar o potencial econômico da Amazônia sem comprometer a qualidade de vida das populações e a integridade do ecossistema?
A resposta não é simples, mas é uma questão que precisa ser enfrentada de forma urgente. Precisamos enxergar a preservação da floresta e de seus povos como um interesse global, não apenas regional. A região Amazônica é responsável por serviços ecossistêmicos cruciais que impactam todo o planeta. Sem ela, estamos colocando em risco a estabilidade climática e a sobrevivência de milhões de espécies, incluindo a nossa.
É fundamental incentivar a sociobioeconomia e estimular cadeias de valor sustentáveis na região amazônica. Através deste conceito, valoriza-se o conhecimento tradicional das comunidades do território, que possuem uma relação ancestral e sustentável com a floresta. Esses povos têm um profundo entendimento dos ecossistemas amazônicos e das práticas de manejo dos recursos naturais, que têm sido transmitidas de geração em geração. Ao mesmo tempo, as cadeias de valor sustentáveis implicam em incentivar práticas de produção e consumo que minimizem os impactos ambientais e sociais. Isso envolve desde a utilização de técnicas agrícolas e extrativistas sustentáveis até a promoção de produtos certificados, com rastreabilidade e que respeitem os direitos trabalhistas. Ao fazer isso, contribuímos para a conservação da floresta, a redução do desmatamento e a preservação das fontes de água e biodiversidade, essenciais para a estabilidade dos ecossistemas.
As ações empreendidas pelas populações indígenas, quilombolas e ribeirinhas não são apenas para garantir sua própria sobrevivência, mas para assegurar a sobrevivência de toda a humanidade.
Neste Dia do Meio Ambiente, é fundamental que todos nós, como cidadãos globais, unamos forças para proteger a Amazônia e seus defensores. Devemos exigir ações concretas dos governos, da sociedade civil e das empresas, a fim de frear a violência e promover práticas sustentáveis na região. Além disso, é imperativo reconhecer que a preservação da floresta e de seus povos vai além das fronteiras nacionais. É um interesse global que afeta a todos. A Amazônia desempenha um papel vital na regulação climática e na manutenção da biodiversidade, sendo um componente essencial na luta contra as mudanças climáticas.
Portanto, é necessário incentivar a criação de uma economia que valorize a sociobiodiversidade, promovendo atividades econômicas sustentáveis que beneficiem tanto as comunidades locais quanto o meio ambiente. O desenvolvimento da Amazônia deve ser guiado por princípios de equidade, justiça social e respeito aos direitos dos povos indígenas e tradicionais.
É chegada a hora de agir. O futuro da Amazônia e de seus defensores está em jogo, assim como o futuro do nosso planeta. Juntemos nossas vozes e nossas ações para proteger esse tesouro natural, para honrar a memória daqueles que deram suas vidas pela causa ambiental e para garantir um futuro sustentável para todes.
Elevemos o chamado pela proteção da Amazônia e de seus defensores. Juntes, podemos fazer a diferença e construir um mundo onde a preservação do meio ambiente e a qualidade de vida das comunidades caminhem lado a lado.
Por: Kylanne Bitencourt, analista de Comunicação do Instituto Ethos e
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