Encontro do Ethos propôs pensar a diversidade a partir das próprias experiências pessoais
A discussão da diversidade é um desafio e tanto, nos mais diversos setores. Incentivar e promover a inclusão no mercado de trabalho não é menos difícil, especialmente porque mexe com o status quo. Contudo, é sabido que incluir também é diminuir as desigualdades. Além do desafio da mudança, também há o da amplitude deste tema e os seus diversos viéses. A diversidade está nas questões de raça, gênero, orientação sexual e deficiências, por exemplo, e tratar destas questões pode suscitar diversos questionamentos que vão desde o pronome de tratamento a ser usado até oferecer um ambiente em que a pessoa se sinta pertencente.
Para estimular estes debates, a partir de um processo endógeno, o Ethos tem realizado diversas rodas de diálogo sobre variadas temáticas. No último dia 17, reuniu pessoas para conversarem sobre questões e desafios da diversidade e inclusão nas práticas empresariais. O modelo proposto não inclui um expert falando sobre a temática e depois tirando dúvidas dos presentes. No formato roda, que no último encontro contou com 8 rodas com até 7 pessoas, cada uma incluindo um facilitador, todos os participantes têm a mesma hierarquia e o mesmo espaço de participação, criando assim um ambiente de horizontalidade, abertura, confiança e respeito. Ficam de fora, os cargos e os status e entram apenas as experiências e percepções de cada pessoa presente no encontro. O encontro foi facilitado por nossos parceiros, que aproveitamos para agradecer: Daniel Teixeira e Glória Gonçalves, do CEERT; Margareth Goldenberg, do Movimento Mulher 360 (MM360); Ivone Santana, da Rede Empresarial pela Inclusão Social (REIS) e Heloisa Moura do Instituto Modo Parités; Reinaldo Bulgarelli e JP Polo, do Fórum de empresas e direitos LGBT+; Ana Lucia de Melo Custodio, do Instituto Ethos.
“(…) temos liberdade para expor estas questões e somos incentivados a criar
grupos para discutir estas questões, [mas], às vezes, é difícil engajar as pessoas”
As reflexões durante o encontro foram muitas, mas o que mais esteve presente foram as experiências de cada um. “Como uma pessoa LGBT, eu me sinto feliz em trabalhar em uma empresa que se preocupa com esta questão de maneira global, mas sei que ainda temos um longo caminho. Por exemplo, sei que a questão racial é um desafio lá dentro e precisamos avançar muito nesse ponto. Ao mesmo tempo que temos liberdade para expor estas questões e somos incentivados a criar grupos para discutir estas questões, às vezes, é difícil engajar as pessoas”, comentou uma participante*.
As adversidades do engajamento e sensibilização para esta agenda foram compartilhados por diversos participantes. “Tenho atuado em um projeto de inclusão de mulheres em uma frente de trabalho predominantemente masculina. E agora, tentamos levar esta causa para outros níveis da organização e montamos um grupo de trabalho. No momento, são mais de 10 mulheres e só eu de homem. Chamo meus colegas homens e eles não vêm”, apresentou um dos participantes.
“(…) eu construí um imaginário de que havia pessoas para liderar e pessoas para serem lideradas”
O trabalho é árduo, muitas vezes parece de formiguinha e os impactos mais profundos são, às vezes, subjetivos, mas podem mudar a perspectiva e a vida de alguém, como é o caso do relato de um outro participante. “Estávamos trabalhando a questão racial em uma emissora junto a um grupo de diversas pessoas. Uma das pessoas do grupo era um rapaz jovem e branco e que ia em todas as reuniões, mas nunca dizia nada e somente anotava. Ao final de um ano de encontro, este jovem levantou a mão, pediu a fala e compartilhou: ‘Gostaria de agradecer este grupo porque neste ano eu aprendi o quão racista eu sou. Cresci em ambientes cheios de pessoas brancas no qual o papel do negro era sempre de subordinação, então, eu construí um imaginário de que havia pessoas para liderar e pessoas para serem lideradas e elas eram divididas pela cor. Nestes encontros eu tinha apenas a missão de anotar o que era discutido e repassar, mas, ao final, quem mais aprendeu fui eu. Estes encontros mudaram a minha perspectiva de vida’”.
Os números não mostram um cenário tão positivo: ainda temos muito o que avançar no caminho da inclusão, da diversidade, em criar mais oportunidades, ambientes favoráveis e novas perspectivas. Mas, as pessoas engajadas já estão começando a se reunir e a transformação é feita todos os dias, aos poucos, conquistando e engajando outras pessoas. Encontros como esses servem para isso: fortalecer laços, vínculos, lutas e forças para um mundo mais justo e menos desigual para todxs.
*A equipe editorial escolheu preservar o nome dos participantes a fim de evitar possíveis constrangimentos
Por Bianca Cesário, do Instituto Ethos