Evento virtual reúne especialistas e lideranças para debater estratégias climáticas
No último dia 15 de agosto, a quinta edição da Conferência Brasileira de Mudança do Clima (CBMC) trouxe à discussão uma série de painéis e debates virtuais que buscaram abordar temas cruciais para o enfrentamento dos desafios climáticos atuais. O evento, realizado no canal do Instituto Ethos no YouTube, contou com a participação de renomados palestrantes e especialistas que compartilharam reflexões e perspectivas sobre a transição energética justa, resiliência subnacional, gestão climática, educação ambiental, igualdade de gênero, filantropia e ações sustentáveis na Amazônia.
Transição energética justa: Oportunidades e desafios
O primeiro painel da conferência abordou o tema da transição energética justa e suas implicações nos contextos locais. Flávia Bellaguarda, co-fundadora da LACLIMA, destacou a importância da colaboração de diferentes setores da sociedade nesse processo: “Isso é impossível só com um setor da sociedade. Precisamos de todo mundo remando para o mesmo lugar. Isso não significa concordar com todo mundo o tempo inteiro, mas discordamos e caminhamos para um mesmo objetivo, que é a descarbonização como um todo.”
Camila D’Aquino, Head de inovação (GEO Biogas&Tech), também trouxe insights valiosos sobre a governança e parcerias necessárias para uma transição energética eficaz. A mediação do painel foi conduzida por Maria Caldas, senior fellow do ICLEI América do Sul, que contribuiu para enriquecer o debate.
Pacto Federativo Climático e resiliência subnacional
O painel seguinte abordou o fortalecimento da resiliência climática por meio de ações estratégicas no âmbito do Pacto Federativo brasileiro. Ricardo Young, presidente do Conselho Diretor (IDS), ressaltou a importância de mecanismos que possam ser adotados pelos três níveis da federação para mitigação, adaptação e capacitação municipal e estadual em relação aos impactos da mudança do clima. Sergio Xavier, coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC), e Marina Esteves, coordenadora de Projetos em Meio Ambiente do Instituto Ethos, também contribuíram com perspectivas valiosas. A atividade foi mediada pela Ana Wernke, coordenadora de Relações Institucionais e Advocacy para o ICLEI Brasil.
“Nós estamos em um momento muito especial. Nunca na história do Brasil, nunca mesmo, nós tivemos um presidente que pautou no seu programa a questão do desenvolvimento sustentável. Nunca tivemos um ministro da economia que efetivamente se comprometeu em arregaçar as mangas e compreender o que desenvolvimento sustentável significa e que a economia pode e deve ajudar nesse processo. Nós nunca tivemos um Ministério de Meio Ambiente tão bem equipado e nunca as questões das evidências científicas de que nós estamos sendo literalmente fritos pelas mudanças climáticas estiveram aí como estão. Portanto, é a hora de fazermos a mudança histórica que o Brasil promete fazer e não faz e ser o grande líder mundial da transição da economia sustentável.”
Ricardo Young, presidente do Conselho Diretor (IDS)
Plano Clima – Caminhos para a gestão Climática no Brasil
A discussão a respeito do Plano Nacional sobre Mudança do Clima e oportunidades de participação do setor empresarial na elaboração das estratégias foi o foco do terceiro painel. Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, e Thiago Longo, coordenador geral da Secretaria Nacional de Mudança do Clima no Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, dialogaram sobre a construção do plano e os desafios envolvidos. Inamara Santos Mélo, coordenadora-geral da Política Nacional de Adaptação da Secretaria Nacional de Mudança do Clima, trouxe a mediação do painel.
Em sua fala, Thiago destacou a atuação do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima: “Temos três grandes desafios. Um político, que é a necessidade de uma atenção política ao tema. O segundo, é o envolvimento de instituições e processos, isso está muito na nossa mão, que é fazer a coordenação de diversos entes de vários níveis da sociedade. E o terceiro são os recursos, um pilar super importante, sabemos que a mudança de chave na questão climática demandará um número expressivo de recursos”.
Em seguida, Inamara ressaltou a importância de participações como a do Thiago dentro da CBMC. “É muito necessário trazer para essa Conferência uma fala sobre a nova governança climática, como está estruturada a agenda”, disse. “Acho que isso é uma vitória da própria Conferência Brasileira de Mudança do Clima, que está em sua 5ª edição e não é demais lembrar que a CBMC foi uma iniciativa de organizações não governamentais, movimentos sociais, povos tradicionais, governos subnacionais e a comunidade científica, justamente, para manter os compromissos brasileiros do clima e apresentar tudo o que a gente precisava avançar em um tempo sombrio de negacionismo climático que vivemos no Brasil nos últimos anos”, completou.
Caminhos para a Sustentabilidade: Educação Ambiental, Territórios e Mudanças Climáticas
No painel “Caminhos para a Sustentabilidade”, foi abordada a metodologia de construção de atividades educativas que enfocam a interligação entre territórios e mudanças climáticas. Leonardo Barbosa, coordenador de projetos da Synergia, destacou a importância de mapear relações e impactos dentro de áreas estratégicas, envolvendo a população no diálogo para construir soluções climáticas.
O painel “Soluções climáticas para quem?” abordou os impactos das ações políticas relacionadas a projetos de soluções climáticas nos territórios e nas vivências das mulheres. Dineva Maria Kayabi, conselheira da TAKINÁ, destacou a importância de considerar as comunidades locais em projetos de transição energética.
“A gente está vendo o que está acontecendo. Os passarinhos não cantam mais no tempo certo, as plantas não amadurecem no tempo certo […], às vezes chove muito, outras não chove. Ando conversando muito sobre a mudança ao redor do nosso território, muito desmatamento e nós sentimos isso. Isso nos surpreendeu muito, não ter a chuva mais no período certo.”
Dineva Maria Kayabi, conselheira da TAKINÁ
Myrelly Gonçalves, presidente da Associação das Mulheres Pescadoras Artesanais, Roselita Vitor da Costa Albuquerque, coordenadora do Pólo da Borborema e co-coordenadora da Marcha pela Vida das Mulheres e da Agroecologia também compartilhares reflexões sobre a importância da igualdade de gênero nas políticas climáticas. Deroní de Fátima Leite Mendes, coordenadora do Programa Direitos Socioambientais do ICV, mediou o painel.
Incluindo a Educação Climática na Legislação Brasileira: Desafios e Caminhos
O painel sobre a inclusão da educação climática na legislação brasileira abordou estratégias para efetivar essa inclusão com base na Política Nacional de Educação Ambiental. Marcos Sorrentino, diretor do Departamento de Educação Ambiental e Cidadania no Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, reforçou a importância de se reunir esforços em prol da justiça climática. “Para nós termos educação climática, precisamos juntar forças com todos aqueles e aquelas que há décadas vem lutando para a educação ambiental”, afirmou.
Também estiveram presente na mesa de diálogo a Suely Araújo, gerente da Filial Brasil do The Climate Reality Project e a Duda Salabert (PDT), deputada federal de Minas Gerais que também compartilharam suas perspectivas sobre os desafios e caminhos para a educação climática na legislação. Renata Moraes, representante do Climate Reality, conduziu a mediação do painel.
O papel da filantropia no enfrentamento à crise climática na Amazônia
Na penúltima atividade do dia, discutiu-se o papel das organizações filantrópicas e do investimento social privado na agenda climática para reduzir desigualdades socioambientais e climáticas na Amazônia. Iago Hairon, oficial de programa sênior em Justiça Climática para a América Latina na Open Society Foundations, Enrique Ortiz, diretor sênior do programa Andes Amazon Fund, Fernanda Lopes, diretora de programa do Baobá – Fundo para Equidade Racial, Cássio França, secretário-geral do GIFE, e Leonildes Nazar, coordenadora da Iniciativa Amazônia no Instituto Clima e Sociedade, compartilharam perspectivas sobre a atuação da filantropia na região. Victor Salviati, superintendente de inovação e desenvolvimento institucional da Fundação Amazônia Sustentável, conduziu a mediação do painel.
O ressurgimento do corte da seringa como meio de vida sustentável: A parceria que retomou a história
Encerrando a V Conferência Brasileira de Mudança do Clima, o painel trouxe à tona o ressurgimento do corte da seringa como meio de vida sustentável na Amazônia. Sebastião dos Santos Pereira, coordenador da cadeia da borracha da VEJA, apresentou a experiência de valorização da economia florestal no Acre por meio da atividade extrativista da borracha. A parceria entre a empresa francesa de calçados VEJA, a SOS Amazônia, cooperativas e extrativistas demonstrou a importância da conservação da natureza e da cultura extrativista para as comunidades locais. Francisco Weverton de Lima Oliveira, coordenador do setor técnico na Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre), também compartilhou insights sobre o papel da cooperativa na promoção da sustentabilidade.
A V Conferência Brasileira de Mudança do Clima, realizada virtualmente no canal do Instituto Ethos no YouTube, reuniu especialistas, ativistas e representantes de diversos setores para discutir ações concretas e estratégias de enfrentamento das mudanças climáticas. Os debates abordaram desde a transição energética justa até a inclusão da educação climática na legislação brasileira, destacando a importância da cooperação entre sociedade civil, setor privado, governo e comunidades locais para promover uma transição para um futuro mais sustentável. O evento retornará ainda em 2023, com atividades presenciais.
Mais informações no site do evento.
A Conferência Brasileira de Mudança do Clima é correalizada por Centro Brasil no Clima (CBC), Pacto Global, Fórum Amazônia Sustentável (FAS), Secretaria de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Fernando de Noronha (SEMAS PE), ICLEI, Observatório do Clima (OC), Projeto Saúde e Alegria (PSA), Fundación AVINA, Instituto Clima e Sociedade (iCS), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Youth Climate Leaders (YCL), The Climate Reality, Seclima Niterói, Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), Instituto Alana, Secretaria do Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD GO), IEI Brasil, Instituto Akatu, EACH USP, Idema RN, Colégio Latino-Americano de Estudos Mundiais (CLACSO/FLACSO), Delibera Brasil, SOS Amazonia, Instituto Duclima, AFS Intercultural Brasil, Sistema B, Clima de Eleição e Synergia. A CBMC é patrocinada pelo Instituto Clima e Sociedade, pela Synergia Consultoria e pela Embaixada do Canadá.
Por: Lucas Costa Souza, do Instituto Ethos
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