Da dimensão poética à prática das redações

Quando a jornalista Flávia de Oliveira, do jornal O Globo, chamou o cantor e compositor Arnaldo Antunes para falar sobre sustentabilidade, na abertura da cerimônia de entrega do 7º. Prêmio Ethos de Jornalismo, a platéia que lotava o Teatro Alfa, no Hotel Transamérica, explodiu em aplausos. Arnaldo, como não poderia deixar de ser, deu o seu show, mesmo sem música. Em meio a uma conferência onde os especialistas dominaram os palcos, discorrendo brilhantemente sobre os aspectos mais complexos da sustentabilidade, Arnaldo quebrou a rotina, introduzindo um discurso poético e transcendente sobre o tema.

Foi uma fala rápida, mas suficiente para trazer as reflexões da semana para uma dimensão mais cotidiana. O que é sustentabilidade? Para Arnaldo, a palavra remete a dois conceitos muito próximos de sua produção artística: o tempo e o espaço. Ter sustentabilidade, para ele, é estar em pé, é ocupar um lugar no espaço, mas também é persistir no tempo, é caminhar em direção ao futuro. Como conseguir essa proeza? Precisamos de alimentos? Sim, diz ele, mas lembra: “A gente não quer só comida, é preciso pensar mais largo, é preciso ter utopias”. Para ele, “não dá para jogar a poeira pra debaixo do tapete”. No final, Arnaldo cantou, sem violão: “Saiba, todo mundo foi neném. Einstein, Freud e Platão também...”. Arrancou aplausos, de novo.

Em seguida, o telão apresentou os 15 finalistas do Prêmio Ethos de Jornalismo, falando de seus trabalhos e das dificuldades que enfrentaram para realizá-los. Como jornalistas profissionais, críticos e imparciais tentaram manter a isenção, mas não conseguiram totalmente, diante da gravidade do tema. Ficou claro o engajamento de cada um com aquilo que pesquisaram e escreveram, sem prejuízo do compromisso com a veracidade das informações, com o aprofundamento e a diversidade das fontes.

Após o anúncio dos vencedores, Andréia Vialli, de O Estado de S. Paulo, premiada na categoria Mídia Impressa Jornal, ao ser entrevistada pelo presidente do Instituto Ethos, Ricardo Young, expressou com clareza o nível das transformações que ocorrem nos diversos segmentos empresariais do país. Especializada na área financeira, Andréia admitiu que o setor está começando a acreditar na importância de aderir às causas da sustentabilidade.

De acordo com Ricardo Young, uma avaliação do Prêmio Ethos de Jornalismo desde a sua primeira edição revela que houve este ano uma “enorme evolução da abordagem da imprensa em relação às questões da sustentabilidade”. Diversos fatores contribuíram para isso, segundo ele. “A urgência do tema, a maior disseminação dos conceitos, a própria adesão das empresas e também o preparo dos jornalistas levaram a um grande salto de qualidade”.  (Publicado em 17/06/2007)