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Duas moças e dois rapazes, mudos e apáticos, dispostos um atrás do outro.
De repente, ouve-se uma voz: "A diretoria manda avisar que não há mais lugares
disponíveis". Os quatro reclamam. A voz continua: "A diretoria manda avisar
que lugares podem aparecer". Voltam para a fila e, aos poucos, começam a cantar.
Com uma breve música sobre inclusão social, o grupo de teatro Os Inclusos
e os Sisos - Teatro de Mobilização pela Diversidade inicia a apresentação
do espetáculo Histórias do final da fila, com pequenas cenas
sobre o dia-a-dia de pessoas com deficiência. "Portadora não, eu tenho deficiência,
mas não porto nada", diz uma das personagens. A peça aborda o tema com uma
visão crítica e, ao mesmo tempo, lúdica, arrancando risadas do público.
O grupo ´Os Inclusos´ nasceu de um desafio apresentado pela ONG Escola de Gente -
Comunicação em Inclusão a seis jovens atores no ano de 2003, no Rio de Janeiro.
A idéia era de que estudassem o conceito de sociedade inclusiva, proposto pela ONU, e
encontrassem meios de utilizar o teatro para disseminá-lo, priorizando os direitos de pessoas
deficientes. Hoje, o espetáculo é dirigido por Diego Molina e ainda não tem patrocínio.
Após a questão levantada por um espectador sobre o modo como as pessoas ´teoricamente
excluídas´ encaram a peça, uma participante da platéia com deficiência visual
se manifestou, dirigindo-se aos Inclusos: "Vocês pegaram
a sutileza dos preconceitos, das discriminações. Eu me sinto representada
por vocês aí no palco".
Com sutileza, outros tipos de discriminação também foram abordados durante
o espetáculo, como sotaques, preconceito racial e filosofias de vida que pregam
que todos são iguais. "Somos diferentes, cada um é de uma forma", criticava
uma das personagens da peça. O trabalho desperta reflexões sobre o que é discriminar
e pode ser utilizado para abordar qualquer tema, por isso novos esquetes estarão
sempre sendo criados. Assim, Os Inclusos e os Sisos tornam-se,
simultaneamente, uma manifestação social e artística, apontando as dificuldades
que grupos em situação de vulnerabilidade podem encontrar no cotidiano.
Em uma das cenas do espetáculo, os personagens criam e cantam a música: "Eu era cego e voltei
a enxergar / eu era surdo e voltei a ouvir / eu era ´perneta´ e tomei um remédio que fez a perna
crescer / eu era ´down´ e agora sou um cara legal". Ao final, um deles diz: "Acho que as pessoas não
vão entender a crítica". Dessa forma, explicita o assunto tão bem abordado na peça: o de que a inclusão
se dá em todas as condições humanas, e não apenas nas pessoas com deficiência. "Utilizamos a deficiência como
estratégia para uma coisa maior", encerrou Cláudia Werneck, presidente da ONG Escola de Gente.